Medos de Catarina

28/10/2011

Ansiava para encontrar novidades de Catarina, essa doce menina. Já estava desesperado pra saber por onde ela andava. Eu até pensei, preocupado, que aquele papel encontrado no meio da rua não era obra do acaso, e sim de uma mente perturbada e solitária.

Tive medo de que Catarina não existisse, mas os medos de Catarina são maiores que o meu. Pude descobri-los após longa procura, ao avistar, na rua, cheia de pétalas de flores que caíam das árvores, mais uma carta de Catarina, que me encanta dia após dia.

medo de ficar sozinha

sabe, não sou assim tão sozinha, tenho meus gatos e minhas manias. e uma das boas manias é a de conversar com meus bichanos. eles até se fazem de interessados em minhas histórias, mesmo lambendo seus longos pêlos. tenho dois gatinhos, sendo Clara a mais velha e Escuro o mais novo. não, Clara não é clara: ela é escura. já o Escuro é escuro mesmo.

tenho medo de perder meus gatos, de não ter com quem conversar, de ficar sozinha. sei que gatos não são humanos, mas os meus me ouvem e não me questionam. colegas de classe em minha escola constantemente me questionam sobre isso e aquilo: não confio nelas para contar meus segredos, meus anseios, meus amores e meus sonhos. às vezes recorro a algumas meninas em busca de atenção, mas no fundo o que eu quero é que Escuro me responda se um dia serei amada como Clarice foi em vida.

faço pose de que posso viver sozinha, mas toda mulher espera por um amor que a ensine a amar.

é isso: não basta ser amada, quero aprender a amar.

medo de não ser amada

esse medo me impede de me aproximar de alguém. sou tímida, sou feia, sou gordinha, sou míope e só sou feliz por viver neste século por causa da tecnologia e dos avanços da ciência e da medicina. posso corrigir minha miopia, posso fazer plásticas, posso entrar em um regime controlado. mas não há nada que conserte essa minha timidez compulsiva.

já tive um relacionamento fracassado, com o Paulo. nas ele só deve gostar de mim e nada além disso: não é amor quando não há amor.

a gente ficou algumas vezes não faz muito tempo, mas acho que ele considera “as outras” mais interessantes do que eu. raios! elas são tão bonitas, com seus longos cabelos tratados, alguns escuros, outros loiros ou coloridos. elas trabalham, elas têm dinheiro, elas têm carros e fumam Free. e o que eu sou? não posso nem dizer que sou mais inteligente, pois isso é relativo. o que eu sei de arte, não sei de economia. e o que eu tenho? tenho um quarto vazio, um computador fajuto, meus gatos e minha timidez.

medo de amar sem ser correspondida

‘Brilho eterno de uma mente sem lembranças’ é um dos meus filmes favoritos. tem uma das mais marcantes cenas que já assisti, com Joel Barish dizendo a si mesmo algo como ‘por que eu tenho essa maldita mania de me apaixonar por qualquer mulher que me dê um pouco de atenção?’. eu sou meio assim, logo me apaix

Infelizmente, a carta de Catarina acabou nesta parte.

Busco fragmentos de suas escritas todos os dias, sonhando um dia encontrá-la.

É incrível, mas todos estes medos de Catarina também são meus.

Falta-me coragem para buscá-la.

Diário de Catarina

27/10/2011

Acordei cedo e fui comprar pão. Saí na rua e um papel voou em minha direção.

Tão inesperado quanto uma rima logo no primeiro parágrafo de um post no blog, me perguntei se o que aconteceu não seria essa tal de “obra do acaso”. Mas eu nem sabia que o acaso trabalhava em obras.

Eu sequer acreditava no acaso!

O que voou em minha direção foram doces palavras, escritas como se fossem jogadas ao oceano, para algum náufrago à espera de uma garrafa trazendo boas notícias.

Não sei se este náufrago sou eu (eu nunca sei). Mas quanto mais leio, mais me vejo na angústia dessa pessoa.

Eu às vezes sinto que ela, a dona da carta, sou eu. Às vezes penso que sou o que ela precisa. Às vezes eu a quero. Às vezes eu a odeio.

Mas eu não sei se Catarina me quer.

Eu não conheço Catarina.

sonhos de algodão doce

eu queria provar um sonho, saber se ele tem mesmo gosto de algodão doce. só que eu não consigo sonhar.

nunca tive um sonho com o qual eu possa me lembrar ao acordar. minha vida vazia não me permite ter lembranças do meu dia. tudo é muito seco, é muito escuro, é muito vazio. e frio.

solitária em meu quarto, eu então tentei sonhar acordada. me imaginei de mãos dadas com alguém, correndo feliz por um campo verde num sol ameno de outono. sonhei com minha casinha velha e térrea, com longos e largos corredores ao lado e um belo jardim no quintal. pensei nos saborosos bolinhos de chuva que poderia preparar para qualquer um que chegasse em minha casinha: uma vizinha, um parente, um amor, o amor da minha vida…

de olhos fechados, mas acordada, eu tento sentir esse algodão doce pela primeira vez. mas ao pensar num sonho, o que eu saboreio são bolinhos de chuva.

e infelizmente, meus bolinhos de chuva são amargos.

pois a chuva que cai ao prepará-los não é chuva.

são lágrimas. minhas lágrimas.

Profissões da década de 10: o desembalador profissional de quinquilharias recém-lançadas

23/10/2011

Olá amigos! Vamos hoje começar uma nova série de reportagens a respeito das ~ profissões da década da 10 ~.

Nesta série você verá gente como Ricardo, escritor falido que transformou seu blog escroto em um site de sucesso, que lhe garante o pão quentinho de cada manhã bem na porta de sua casa. Ou como Nicole, ex-modelo que abandonou sua vida de ficha rosa para se aventurar no mercado de fotografias feitas a partir de celulares comprados na feirinha da madrugada.

Hoje, nós vamos mostrar a respeitável profissão dos ~ DESEMBALADORES PROFISSIONAIS DE QUINQUILHARIAS RECÉM-LANÇADAS E COMPRADAS ANTES DE TODOS ~.

Este telefone mal chegou ao mercado e já foi cuidadosamente analisado por esta nobre garota. Ela conseguiu o aparelho antes de todos pois mora na Austrália, país do outro lado do globo e, como no Japão, à frente de ~ nosso tempo ~.

A guria, de voz suave (e sábia ao não exibir sua face no vídeo), mostra como é irresistível aquela sensação de provocar inveja nos outros. Demonstra suas digníssimas habilidades ao tirar o plástico da caixinha de seu aparelho, e nos deixa embasbacados com sua sutileza ao abrir a caixa.

Não contente, ela ainda mostra os fantásticos manuais que acompanham o produto, tão úteis quanto limpar bumbum de recém-nascido com soda cáustica. Ainda vemos alguns fios essenciais para usufruir o aparelho e o real motivo de a maldita caixa ser deste tamanho: essa merda de carregador de tomada.

A garota, infelizmente, não sabe o que raios fazer com seu produto. Mas ganha sua vida fazendo filminhos como este e postando-os na internet.

Quer ser como nossa amiguinha australiana? É só ter boa voz, comprar tudo antes de todos, conseguir uma câmera e um tripé e treinar para abrir caixas num tempo dez vezes maior que um ser humano comum faria.

Não seja como o senhor abaixo, que não soube fazer direito:

 

Long live the king: E as namorada?

Ódio e paixão

18/10/2011

Eu preciso de você.

Eu quero você.

Eu te odeio.

Eu te amo.


Long live the king:
 Mas peraí… Não foi você que disse que era piegas declarar amor a alguém nas internete?

Abra os olhos

16/10/2011

“Abra os olhos, siga o dia, alcance o sol”. Eu queria poder lhe dizer essas palavras. Mas elas estão presas em minha mente, à espera de serem soltas.

(À espera do melhor momento.)

Não sou um profeta, não sei o futuro. Não sou mágico, não quero vender ilusões. Não sou o anunciante das boas palavras, não vou transformar suas esperanças.

Não sou o que eu quero ser. Hoje, eu não tenho você.

Mas abra os olhos. Siga o dia. Alcance o sol.

E eu estarei lá ansiando por você.

 

Long live the king: Vem pro sol comigo, vem.

A maçã

15/10/2011

Essa fruta deliciosa, outrora (injustamente) apontada como o ensejo para que o homem fosse expulso daquele jardim que todos comentam. Numa gôndola do supermercado elas parecem guerrear para chamar nossa atenção, exibindo suas garridas cores de um tom vermelho escarlate difícil de não notar – a não ser, claro, que você seja adepto do “verde”, tão ecochato que não bebe leite e só come maçã e uva verde.

Pois foi num desses supermercados que nossa maçã apontou. Ao lado de suas iguais, essa fruta era vermelha, lisa, reluzente e aparentemente suculenta como uma boa… maçã.

Ardiloso, porém, é o destino da maçã em uma gôndola. A forma como que as pessoas apalpam a fruta dá a entender que todas são especialistas na escolha de uma maçã. As que ficam pra trás, acuadas, entram em um conflito interno, coitadas. Tentam entender por que são rejeitadas. E adoecem. E apodrecem.

Os dias passam e a maçã fica à espera de um especialista para escolhê-la. O tempo dá corda para que ela, triste, apodreça. Abandona sua robusta cor. Deixa de exalar seu agradável odor.

A maçã não chama mais atenção de ninguém; praticamente invisível, passa a ser apenas um lixo à espera de ser recolhido.

Mas para toda maçã há um especialista.

Num dia, um garoto pobre e mulato – e ainda mais escuro tanto de sol quanto de sujeira – entra no supermercado. Suas mãos não podem com as maçãs reluzentes, tão novas que parecem ter acabado de sair daquele tal jardim. Essas maçãs ensejam mãos polidas. Esnobes!

O garoto então avista sua maçã. Tão podre quanto ele, o pobre infeliz sabe que com essa fruta ele pode lidar. Sai de perto da gôndola com a maçã em seus braços. Preocupado para não ser avistado, o miserável não percebe a felicidade de sua maçã, enfim escolhida, pronta para servir seu melhor propósito.

Maçã não é pecado. Maçã é alimento.

Alheio a essa história, o garoto podre, enfim, come sua maçã podre.

Dedico isso ao meu irmão, que escreveu essa história numa versão tragicômica quando tinha, sei lá, uns 10 anos.

 

Long live the king: Ai tadeenho do garotinho, queria tanto dar muito amor a ele.

Deus esta bêbado

10/02/2010

Pássaros divinos já começavam a piar seus cânticos de louvor quando o chefe de toda essa budega apareceu um pouco transtornado, falando alto com sua voz de Cid Moreira:

– GAAA… GABURIELLL. GAAAR.. GABRIEL! AAAANJO GABRIEL! VEINZ CA PUZFAVO VEINZ LOGOZZZ

Anjo Gabriel acordou com o barulho e logo percebeu o que aconteceu. Pensou consigo mesmo “ah não, de novo não…”.

– Diz, chefe, estou aqui e… uau, como você está horrível. Já disse várias vezes que não curto essas suas baladas no inferno com o tio Lúcifer. Olha só o que ele causa. É premeditado. E você aceita e…
– CALABOCAEMIESCUTAANJOANDRÓGINOO.
– …
– OK, AZ PARADAZ EHZ O SZEGUINTI…  EO TAVO LAZ E TAOZ E VIZ AQUELA COCOTA DI QUI LIFALEI UNZ DIA E TAOZ.
– Maria?
– IZO, IZO, ELA MESZMA. MEO EO NAONZ RESZIZTI E TAOZ NEAH? HE HE…
– Meu Deus…
– OI?
– Nada. Que foi que aconteceu?
– EO A ENGRAVIDEIZ!

Anjo Gabriel deu um gritinho de preocupação e ficou mais branco do que já era. Começou a coçar seus cachos dourados e a andar de um lado para outro, exclamando: “Ai Deus! Ai Deus!”

– POHA GABRIEUL MEO RELAXA HEHE MARIA ANGORA CAZRREGA UN FRUTO MEO! TO CUMAS IDEIA AE VOUZ CONZERTA TUDO.

Gabriel era um pau mandado, obedecia ao chefe como todos os outros, mas fazia melhor o serviço e não reclamava – não era raro ver anjos como Daniel resmungar às costas de Deus.

Porém, como qualquer um que segue e obedece ao chefe, anjo Gabriel nunca teve sua inteligência estimulada. O que significa que um plano para resolver essa situação deveria vir de quem a causou:

– Diga, Oh, Senhor, o que faremos?!
– TU VAIZ LA E TAO ENIQUANTO ELA DORME NEAH, MAS VAIZI LOGO QUI O CORNZO DO JOSE TA CARPINTANDO POR AE
– E o que eu digo?
– DIZ QE ELA CARREGAH EIN SEUZ VENTRE UM FRUTO MEU! ORA BOLAS QUE MASI VOZCE PODERIA DIZER//?
– E vai dar certo?
– EU ZOU DEUZ, NUN ZOUS A MAE DINAH NEAH MEO… ZSEI LA ZSI VAZI DAR ZCERTO, VAMUZ TENTA. VOUZ MEXE MEUZ PAUZINHUZ PA FAZE DESZA CRIANSZA SEM MEUZ PODEREZ.
– Então ele não poderá manipular a água, congelar o ar, curar pessoas, ressuscitar, ser invencível… nada?
– NAUNZ. E NÃO TERAZ MINIAS BARBAZ BRANCAZ HEHE MASAGORAVAILOGOPORRA.

E Gabriel desceu à terra, entrando na casa de Maria e contemplando sua beleza: ela cochilava com um sorriso em sua face, denunciando o que acontecera. E que ela gostara.

– Olha, Maria, cê tá grávida, mas fica tranquila, vou reconstruir sua virgindade pra que o José não perceba nada.
– UUhhhh… Ahhhh.. Heeee…
– Ah, e em 9 meses você dará à luz o filho do nosso Pai. Não recomendo aborto no seu caso, nessa época em que estamos ainda é complicado e você pode morrer. Em 2000 anos será mais comum.
– Hee haa… ummm.
– Por sorte nosso Pai é um homem vil e esbelto como José, então seu marido não perceberá o que rolou. Mas recomendo que vocês copulem logo, sei que José tá doidinho por ti arre!
– nnnhhaaaa….

Saindo do quarto de Maria, Gabriel percebeu que não foi o primeiro a chegar ali. Alguém já havia passado pelo sonho de Maria. E esse alguém não era humano.

– Só me falta o tio ter vindo aqui caçoar do Pai…

Voltando ao céu, Gabriel avistou quem esteve perto de Maria antes de sua chegada. Foi logo contar o que viu ao chefe:

– Eu fiz o que você pediu, falei o que você me disse, mas acho que os Kryptonianos se intrometeram…

E foi assim que nasceu o Superman divino.

A invenção da mentira

25/01/2010

Meu velho amigo, o gordinho de outro estado, me recomendou esse filme há uns 10 dias, mas só pude assisti-lo sábado. Deveria ter visto antes.

“É a sua cara, me lembrou bastante de você”, disse ele. Ok, então sou um grande mentiroso? Justo eu?

Mas não se trata (só) de mentiras. Pois é claro que um filme sobre a invenção da mentira teria a invenção da religião, a invenção de um ‘homem no céu’, e como pessoas não enxergariam a ‘verdade’ puramente por conveniência.

O genial Ricky Gervais, que no filme é Mark Bellisson, é um escritor frustrado (ha!) que conseguiu mentir num mundo onde não há mentiras. Não há sequer a palavra ‘mentira’. Ele a inventou. E ninguém é capaz de entender isso, pois todos só dizem a verdade – doa a quem doer (e às vezes doi mesmo).

É como se houvesse um bloqueio mental para não mentir (e, depois, para ninguém entender por que razão alguém não diria a verdade). As pessoas se tornam ríspidas e muito, muito sinceras. Se elas não gostam de você, elas dirão isso. Na sua cara.

O filme é bem medíocre, uma fraca historinha de amor com a clássica tentativa de dar uma lição de moral. Mas as sacadas são geniais.

Ao ver sua mãe morrer triste por saber que a morte ‘é uma eternidade de nada’, Mark mente ‘vendendo’ a ela uma imagem do paraíso, com muito amor, felicidade e uma mansão para cada uma das pessoas.

Sua mãe, então, morre feliz. A cena é bem dramática, na verdade, pois Mark sabe que é mentira. Mas o médico e as enfermeiras que cuidavam da paciente ouvem tudo e logo pensam que Mark é alguém que sabe tudo sobre a morte. Lembre-se: as pessoas sempre vão acreditar no que você disser.

O povo logo pressiona Mark para saber o que de fato há depois da morte. Ele tenta corrigir seu ‘erro’ criando uma espécia de ’10 mandamentos’, dizendo que conversa com o ‘homem do céu’, o responsável por tudo de bom (e ruim) que acontece na terra.

Não digo o que acontece para não estragar o filme, pois as piadas com a religião são geniais: já perto do fim do filme há uma igreja, que é chamada de ‘lugar calmo e tranquilo para conversarmos sobre o homem do céu’.

Um religioso extremo jogaria água benta ou expurgaria os demônios do filme (depende da religião, claro). Um religioso comum apenas veria piadas. Eu enxergo várias e várias ironias. Mas, infelizmente, o mundo é todo de religiosos comuns que não percebem que acreditam numa grande mentira.

E se realmente não pudéssemos mentir?

Não daria certo.

Na verdade, já não deu. Se vocês bem lembram, a primeira versão da Matrix era assim, uma utopia, todos felizes. De acordo com o Agente Smith, não deu certo. Não aceitamos esse mundo, recusamos viver assim.

Mas eu gostaria de tentar novamente.

Por que eu quero ser um cineasta?

21/01/2010

Pra fazer coisas assim:

Pra não ter mais a maldita resolução de “eu queria ter pensado nisso antes”, pois eu não quero mais só pensar.

Quero, finalmente, mostrar o que faço, mas quero que seja dito pela boca de outros. Dos meus atores.

Quero que meus atores sejam meus puppets on a string:

Puppets on a string

Meus atores

Quero apenas quatro câmeras, três idiotas e uma maluca.

Quero diálogos non-sense e descompromissados.

Quero criar meu mundo.

Criar minha história.

Criar pessoas.

Ser Deus.

Kirschblüten – Hanami

21/01/2010

Nunca é tarde demais para realizar um sonho e começar a viver.

É dessa frase que vem toda a emoção de Kirschblüten – Hanami, ou simplesmente “Hanami: Cerejeiras em Flor”.

Há filmes em que você sai do cinema em êxtase pela ação (Avatar?!), puto pelo final (Matrix Revolutions!), numa boa, tranquilo (qualquer merda da Disney) ou querendo quebrar tudo e pegar seu dinheiro de volta (Xuxa?). Mas são poucos os que me deixam pensando na minha própria vida.

Hanami mostra um casal já idoso, com uma mulher que faz tudo pelo seu marido chato e ranzinza. “Não me imagino fazendo algo sem meu marido”, diz a mulher, sabendo que ele em breve morrerá.

Ela, então, tenta fazer com que seu homem acorde pra vida, mas sem contar a ele sua doença. Aliás, isso é uma ironia desgraçada: você precisa se ver morrendo para acordar e viver?

Mas aí a morte vem, e depois de quase uma hora o filme começa de verdade. Só que não é o marido que morre.

E ele vai ao Japão em busca de sua esposa, para entender o que aconteceu e descobrir onde ela esta de verdade. Aos poucos ele percebe o papel da mulher em sua vida. Vê como ela ficou presa em nome do amor a dois e como ela se dedicou para torná-lo feliz.

Para homenageá-la, só há uma coisa a ser feita: realizar os últimos sonhos de sua mulher, sonhos que seriam realizados a dois.

A segunda parte do filme tem uma carga emocional fortíssima, mas não por ser triste. Ver o marido ‘acordar’ e perceber o que perdeu é, na verdade, muito feliz. Feliz pois, como a frase diz, nunca é tarde para realizar um sonho e começar a viver.

Ehhh… Às vezes a morte chega e realmente nos acorda.

Não precisa ser a morte de uma pessoa, pode ser de qualquer coisa. Um objeto, um sentimento, uma aventura, uma paixão, um amor.

No que eu pensei tanto? Ora, sou o que dizem por aí. Chato, mal humorado, ranzinza, bravo. Não quero que uma morte me faça acordar pra vida. Quero acordar antes que isso aconteça.

Ou já acordei, talvez.

Mas meus sonhos aos poucos são realizados.