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Por que eu quero ser um cineasta?

21/01/2010

Pra fazer coisas assim:

Pra não ter mais a maldita resolução de “eu queria ter pensado nisso antes”, pois eu não quero mais só pensar.

Quero, finalmente, mostrar o que faço, mas quero que seja dito pela boca de outros. Dos meus atores.

Quero que meus atores sejam meus puppets on a string:

Puppets on a string

Meus atores

Quero apenas quatro câmeras, três idiotas e uma maluca.

Quero diálogos non-sense e descompromissados.

Quero criar meu mundo.

Criar minha história.

Criar pessoas.

Ser Deus.

Como sentir-se bem com um SMS

14/01/2010

Eu tenho um amigo cujo nick é tsuNami. Quando me acordaram anos atrás dizendo “um tsunami arrasou a ásia”, eu, com o cérebro tentando ‘acordar’ como um Monza a álcool da década de 80, logo pensei: “wtf, o tsuNami é gordo, mas nem tanto”.

Aí eu vi o mar, a lama e as sereias na TV. Tenso. Tão tenso quanto legal.

Você não pode negar: tragédias são legais. Se quer me crucificar por isso, vá em frente. Mas o que você pensou ao ver aqueles aviões baterem nas duas torres?

Vamos ao assunto do dia: o Haiti (não é aqui. FIQUE COM ESSA MÚSICA NA SUA MENTE AGORA.)

Nem lembro que canal eu sintonizei pra ver a tragédia do tsunami na TV. Deve ter sido a Band. Logo após o BREAKING NEWS, entrou um comercial no melhor estilo LIGUE DJÁ, mas com um “MANDE UM TORPEDO” no lugar do LIGUE!.

Ok, não vamos entrar na questão das brilhantes mentes que ajeitam os comerciais na TV – a Globo, que é a Globo, certa vez passou no jornal uma matéria sobre a contaminação do solo por parte da Shell. Logo depois, no comercial, a Shell aparecia se dizendo a tal.

Naquele ano do tsunami eu pensei: por que não criar um teleton para enviar torpedos e ajudar toda essa gente? Juntos podemos ser melhores que Deus!

Não era o caso àquela época.

Mas, hoje, é. E esta sendo feito. A Cruz Vermelha norteamericana tem um número para onde você envia um torpedo doando alguns dólares.

Os americanos gordos e rosas já doaram mais de $5 milhões. Puta que pariu, é um terço do que o Brasil doou. É mais que a Holanda doou. É mais que o Japão. É cinco vezes maior que a doação do Google.

E as doações crescem numa base de $200 mil por hora. Enquanto eu digito isso, um norteamericano troca seu jantar no McDonalds por $10 a mais na conta telefônica.

Impressionante? Sim, claro.

É impressionante como a tecnologia evolui e facilita as coisas.

Nunca foi tão fácil pensar que você fez o possível para ajudar um nego a quilômetros de distância, pessoa essa que nunca colocou um lanche do McDonalds na boca.

Nunca foi tão fácil sentir-se bem consigo mesmo doando $10 em vez de comprar aquele programa legal na app store.

Nunca foi tão fácil e rápido garantir com Deus o perdão de alguns pecados. Os seus pecados, que fique bem claro, já que o Haiti vendeu a alma pro Diabo mesmo e merece sofrer.

Nunca foi tão fácil e simples comprar um terreno no céu. E #fikdik para os pilantras pastores daqui do Brasil.

Fico com as palavras do Sr. Serial, sempre sábio: “a Zilda Arns não podia ter morrido. E o calhorda do Silvio Santos continua de pé”.

Essa, sim, merecia meu respeito.

Escolhas

07/01/2010

A vida é feita de escolhas.

A frase é clichê, mas é a pura verdade. Assim como é clichê acordar, ir ao banheiro, fazer xixi e escovar os dentes. (Se você não faz nada disso, sinto muito, mas você é estranho.)

Você escolhe o que estudar e que profissão seguir. Você escolhe o que escrever e o que ouvir. Você escolhe o que assistir e o que fazer. Escolhe até se quer fazer xixi antes ou depois de escovar os dentes.

Escolhe acreditar em Deus ou não – o que é estranho, afinal se você acredita em Deus também deveria ter o direito de escolher acreditar em contos de fadas sem ser chamado de louco.

Eu, agora mesmo, escolhi comer um delicioso sorvete de flocos, o melhor sabor de todos. Ever.

Alguns tentam se intrometer nas suas escolhas. Dizem que é melhor fazer xixi antes, ou que napolitano é melhor que flocos. Acreditam que seu Deus é maior e melhor que o Deus de Muhammad. E tentam desenhar sua vida com outras mãos.

Mas você escolhe.

E vive com os resultados das suas escolhas.

Sabendo que uma coisa você não escolheu.

Que é vir ao mundo. Ninguém perguntou pra você antes de nascer o que você queria, qual seria sua escolha. Nenhum dos Deuses do universo o entregou um questionário.

Um prazer de seis segundos numa gozada pode foder com sua vida por mais de 80 anos.

Pensamento assim pode acontecer quando você não esta preparado para escolhas – ainda mais quando elas aparecem em múltiplas possibilidades: que filme alugar hoje? Star Wars ou Star Trek?

Mas você pode escolher terminar com tudo isso.

Ou sofrer com a escolha que você fez.

Viva com esse peso.

Viva sua vida com suas escolhas.

Destino

03/01/2010

O telefone toca.

Mãe atende.

Ligação a cobrar.

Mãe desliga.

Mãe liga para filha.

Ocupado.

Mãe pergunta a filho o número do telefone da filha.

Filho diz.

Mãe liga novamente, para o número correto.

Mãe e filha conversam.

Filha desliga.

Mãe vai embora.

Minutos depois, o telefone toca novamente. O filho, desta vez, atende.
Que voz doce do outro lado! Quem é? Quem poderia ser?

“É que ligaram para mim deste número… quem tá falando?”

Apesar da doce voz, o filho sabe que não deve dizer quem é ou confirmar qualquer dado pessoal. Mesmo o número de telefone.

“É… er… bem… pra que número você discou? É, é daqui mesmo. Ah! Acho que minha mãe discou seu número errado, tentando ligar para minha irmã.”

A voz doce revela uma pessoa doce: ela agradece e pede desculpas pelo incômodo. Quem faz isso hoje em dia? Quem pede desculpas por achar que esta incomodando alguém? Quem poderia ser tão educada?

Este poderia ser o destino. Mas não foi, pois o filho não atendeu ao telefone por pura preguiça. Ele só pôde criar uma cena em sua mente fértil. Imaginar a conversa, mesmo sabendo que não haveria conversa. Enganar-se.

Acreditar no destino é tolice.

Mas é curioso pensar que seu destino pode ter batido à porta e você o ignorou.

Se o destino existe, ele baterá novamente.

Mas como um coração pode ter fé quando não há mais algo em que acreditar?

Ironias

11/12/2009

Ironia é ver, da janela do seu quarto, uma cruz reluzente brilhando as luzes do natal, em cima de uma igreja católica.

Ironia é receber uma carta de uma entidade asssistencial de merda pedindo dinheiro em nome de algum santo de bosta. (Sem nem falar nos erros de português.)

Ironia é se deparar com uma faixa em cima de um puteiro: “Sob nova direção! Agora com BELAS garotas!” (E com português perfeito.)

E ironia é ver uma amiga se distanciar de mim provavelmente por imposição do namorado. Ironia pois eu fiz exatamente o mesmo com ela por mais de 2 anos, enquanto eu é que namorava.

Que ironia…

Mas saberei perdoá-la no futuro, assim como outra grande amiga me perdoou.

Pena ela ter ido embora sem nem ao menos me ouvir dizer “obrigado”.
Obrigado por ter, indiretamente, me proporcionado algo tão novo e diferente (à época).

Tocar piano e cantar ao mesmo tempo é tão difícil quanto fazer sexo e assistir a He-Man. Não que eu já tenha passado por isso – não gosto de He-Man e sou péssimo para qualquer instrumento musical.

Mas por ser tão foda fazer essas duas coisas juntas que eu admiro cada vez mais essa mulher:

Vale ressaltar: as composições também são dela.

E parece que ela curte He-Man.

omg!

Fugindo da realidade

10/12/2009

Há como enganar sua vida?

E se o mundo de “Vanilla Sky” fosse possível? Você aceitaria congelar seu corpo e ter sua mente manipulada para poder (tentar) viver uma vida perfeita?

E se a tecnologia de “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” existisse? Você apagaria sua memória e confiaria nos seus amigos para que eles nunca te contassem a verdade?

E se houvesse  um “andar 7 e meio” em algum prédio com uma passagem para a mente de uma pessoa? (Quero ser John Malkovich é o filme.) Em que “mente” você gostaria de ficar por 15 minutos? Será que o vício de ser outra pessoa o deixaria louco?

Viver um sonho é o que você quer?
Apagar memórias é o que você deseja?
Ficar preso na mente de alguém é o que você anseia?

Por que tantas perguntas? Quando vou escrever uma frase sem interrogação?

Não dá pra fugir da sua realidade. Não dá para viver um sonho (ou sonhar viver), enganar sua vida ou querer ser outra pessoa.

Nos três filmes há um ponto em comum. Sua cabeça – ou você mesmo, ora bolas – é mais forte que qualquer sonho, tecnologia ou mágica. Todos os filmes mostram a força de ser “você”. Mesmo que, para aceitar isso, haja sofrimento.

Você pode enganar outras pessoas, mas não consegue enganar a si. Como quando uma pessoa doente – terminal ou não – aceita seu estado e passa a conviver com a doença, sem temer a morte.

Se você esta doente, é preciso aceitar este fato. Mas se você não esta doente e ainda pode mudar sua situação, por que não lutar por isso? Ou quer viver congelado? Ou quer desistir e apelar perder a memória? Ou quer ficar preso no corpo de outra pessoa (ou, quem sabe, viver o que você não é de fato)?

A origem da vontade, do amor e da coragem vem de um lugar apenas. De você mesmo, da sua cabeça.

Mas, pessoalmente, eu gostaria de ter meu céu de baunilha. Sempre quis.

Hoje não tem Michael Jackson.

Limpando a carteira

27/11/2009

Precisei limpar minha carteira para colocar novas coisas nela.

Tirei meu dólar antigo, coloquei o novo. Sim, faço parte da corrente idiota que acredita no poder do dólar, pois já que não creio em deus eu preciso acreditar que meu dólar mágico importado me trará muito dinheiro até ser renovado, talvez já no início do próximo ano. (E é bem provável que eu vá buscar meu novo dólar pessoalmente, lá na boa terra onde você pode ter uma arma sem muitas perguntas.)

Picotei velhos cartões de crédito que já nem valiam mais. O espaço foi tomado por cartões de planos de saúde e pelo dinheiro expresso dos cartões da “minha” empresa. Não vejo minha conta corrente há meses, talvez nem lembre mais da senha. Virei pessoa jurídica sem ter direito a isso.

Guardei em outro lugar os comprovantes da minha participação na festa da democracia. Não sei nem se vale a pena guardar isso, mas vai que nego resolve me colocar contra a parede questionando o que eu fazia em tal dia, tal ano, durante tal eleição. Conto tudo, só não falo em quem votei.

Arrumei espaço para colocar o santo protetor do meu pau, algo que eu não carregava desde… 2008? Claro que são santos novos, recentemente adquiridos. Não que eu os vá usar tão logo. Talvez nem use. Não sou desses caras que conseguem qualquer uma com um bilhete idiota, apesar de saber que sou capaz de tê-las mesmo sem subterfúrgios como palavras random escritas num guardanapo de bar. Apenas não quero mais que meu corpo se misture a outro que não o mereça.

No fim, bem lá no fim, naquele que parecia ser um compartimento secreto maior que a própria carteira, eu achei a foto, junto de um poderoso anel. Tremi, pois tinha certeza que eu já tinha deixado isso de lado. Como a foto voltou à minha carteira?

O anel, um presente, eu até desconfiava que ainda estava por lá, mas a foto apareceu como mágica. Claro que há uma explicação para isso. Alguém viu a foto fora da carteira e a colocou de volta.

Resolvi deixá-la guardada onde estava. Mas ela não deve sobreviver à troca de carteiras que pretendo fazer brevemente.

Sobrou espaço até para eu guardar meu pequeno lápis e algumas folhas em branco. Senti falta de escrever sobre a felicidade da dor alheia enquanto estava no hospital hoje (ontem?) esperando ser atendido. (Aos gloriosos que torciam por minhas doenças e avisavam que emagrecer faria mal: sim, estou doente, “com falta de nutrientes”, segundo o cara de jaleco branco.)

Eu achei que a tinha perdido de vez. Não a via há mais de um ano. Ela foi embora sem nem dizer tchau, mas a recebi de volta de braços abertos. Minha vontade de escrever voltou, surpresa por eu estar tão magro e caçoando de mim como tantos amigos fizeram: TU TÁ COM AIDS, RAPAH?

Fico feliz por deixá-la neste blog.


Long live the king: KWANDO XEGEI AO CEUL UN KRA ME DISS ‘COEH MEO DA A KRTEIRAE”, NAUN CREDITO MASI EIN ANJOS!!11!! NEIN PELADINIUS NA MINIA KMA!!!11

Sozinho contra todos… É irreversível

26/11/2009

Seul contre tous (1998)
Título em português: Sozinho contra todos

Furioso. Denso. Polêmico. Visceral. Poderoso. Excitante. Insano. “Sozinho contra todos” é um desses filmes que recebem tais adjetivos. Ele é tudo isso mesmo, mas costumo resumir o lenga-lenga numa só palavra: TENSO.

Tão tenso que em certo momento o filme “avisa” que o que virá a seguir é chocante, parando de exibir qualquer cena e colando um enorme aviso na tela: “Você tem 30 segundos para deixar de assistir à projeção”.

Tão tenso quanto “Irreversível” (Irréversible, 2002), que é aquele filme que você provavelmente nunca assistiu, mas sabe que existe devido à (tensa) cena de estupro da (deliciosa, peituda, gostosa, linda, maravilhosa) Monica Bellucci.

Gaspar Noé, argentino doentio, é o responsável pelos dois filmes: dirigiu e escreveu. Em “Irreversível” ele deixa sua marca em longas tomadas sem cortes (“plano sequência” – inclusive no estupro), usando câmera nervosa e posterior edição de imagens para avançar minutos no tempo e nas cenas. Um efeito bacana, mas prejudicial para frescos com labirintite (como eu).

A marca do diretor em “Sozinho contra todos” também envolve câmera e edição de imagens. Para dramatizar ainda mais algumas cenas, ouve-se um estouro e a câmera rapidamente avança para um close em algum rosto ou objeto. É de dar medo, principalmente por você não esperar por isso.

Em “Irreversível”, o início do filme é, na verdade, o fim da história. Você só saberá o que esta acontecendo na metade da fita. E só perceberá que a história possui muito romantismo ao chegar ao fim de seus mais de 90 minutos – que seria, na verdade, o início do enredo. Tenso é acabar o filme e ver que aquela aparente felicidade se tornará uma desgraça, com o namorado e o ex-namorado da (peituda gostosa etc) Monica Bellucci caçando o estuprador num clube gay na França.

Já “Sozinho contra todos” mostra o enredo de forma habitual. Há um joão-ninguém que é apresentado apenas como “açougueiro”, sem nome para identificá-lo. Mas ele é também um joão-ninguém na vida, um velho frustrado pelos constantes fracassos. Um velho com uma filha, que é o único motivo para ele não dar cabo em sua vida. E este velho ainda teria outro filho, que é morto na mais chocante cena de todo o filme.

Praticamente não há atuações: o diálogo do velho açougueiro é com o espectador, numa incessante e alienante narração em off. Enquanto cenas passam em silêncio na película, apenas com a narração ao fundo, mergulhamos acuados na insanidade do açougueiro, pobre e jogado à sorte na vida, incomodado com estrangeiros e em busca de vingança contra nazistas. Contra todos que o aborrecem, na verdade. “Serei o maior heroi da França”, diz ele, não muito convicto de seus planos.

Mas tal como “Irreversível”, em “Sozinho contra todos” há muita poesia e romantismo por trás de tanta demência. O fim é chocante, mas dos mais belos que já vi. Inesperável – e não mais tenso.

E aí você percebe que todo ser humano pode ser salvo pelo amor, seja qual for este amor, ou de que forma ele vier.

Você percebe que todos carregam uma moral, como um objetivo na vida. Resta encontrar esta moral.

Trailer? Nem rola. “Sozinho contra todos” é tenso até no trailer: não há cena alguma, apenas a narração. No lugar do trailer, fique com os minutos iniciais do filme:


Long live the king: Por que eu não comentei ontem?

Dans Paris

25/11/2009

Dans Paris (2006)
Título em português: Em Paris

Este é, provavelmente, o mais difícil texto que escreverei em anos. E o mais pessoal também.

Motivo, razão, causa e circunstância moram nesta frase: “Você vai se identificar bastante (com o filme)”. Quem me disse isso foi a mesma pessoa que me recomendou todos estes (excelentes) filmes comentados neste (tosco) blog.

Eu vou me identificar bastante…  E realmente me identifiquei. “Duro é escrever sobre o filme sem deixar de comentar sobre minha vida”, eu disse a ela dias atrás. E este texto foi escrito e reescrito várias vezes durante a semana.

“Você vai se identificar bastante”… Com estas palavras eu quis assistir a Dans Paris todos os dias. Mas comecei a pensar se essa vontade vinha do filme ser excelente ou de ele mostrar, no início, exatamente tudo aquilo que passei: uma previsível separação amorosa de fim melancólico e conturbado.

Mas Dans Paris não é só sobre a tristeza do fim de um amor. Seus minutos inicias são fundamentais para entender a depressão que se segue, para um posterior reencontro com a felicidade nas pessoas que, em certo momento, dizem não ligar para nossa tristeza.

No filme, aliás, há frases que parecem ter sido lapidadas por anos. “É possível que uma história de amor nos faça saltar de uma ponte?” e “Tire um tempo para ignorar a tristeza da sua família” são minhas preferidas. De tão simples, são geniais. E é aí onde se esconde a genialidade das coisas: na simplicidade, naquela sensação de “por que não pensei nisso antes?”.

No filme há uma separação, e isso esta bem explícito.

Mas há, ainda, a volta de um homem ao seu antigo lar, junto daqueles que realmente se importam com ele – apesar dos pesares. Pai, irmão, mãe (distante) e irmã (morta) são seu refúgio. Ele mostra estar deprimido, mas a conversa aos poucos o faz bem. Seu pai, preocupado. Sua mãe, quer saber a verdade.

Seu irmão, quer curtir a vida e mostrar que nela há diversão, que tudo vale a pena. Inclusive foder com três mulheres num só dia e em cada foda pensar que esta fazendo isso pelo seu irmão depressivo. Essa é a maneira de ele dizer que não liga para sua tristeza quando, na verdade, faz tudo por você.

Há cenas marcantes e de sutilezas impecáveis, como quando o pai dá um tapa em seu filho ao repreendê-lo por um ato egoísta. A resposta dele é só uma: rir. Rir do tapa, de apanhar. Mas tal risada é justamente a resposta que o pai queria e buscava em seu triste filho. Resposta que não vinha com conversas e sopinhas.

Tiro o chapéu para três momentos em que o casal separado conversa. O primeiro, após uma transa. “Covarde! Você prefere me foder do que admitir que você não me quer!” diz ela, que completa: “Me amar demais para me machucar, é isso? Seu amor é mais sobre lealdade ao passado. A idéia de me machucar aterroriza você.”

A segunda cena, quando a mulher confessa rezar pelo amor de seu (ex)marido todas as noites, para ela “acreditar” que o amor existe e é recíproco. Só que rezar para um amor é tão inútil quanto rezar para Deus. Rezar, orar, clamar… tudo isso só serve de alento para o que queremos. Fé e esperança.

A terceira é esta abaixo.

Por dois minutos, não respirei. Uma belíssima cena – propositadamente não colocarei as legendas.

Raramente comento sobre o trabalho dos atores, mas não posso deixar de exaltar a interpretação conjunta nesta cena. Do início ao fim.

Para os interessados, aqui o trailer de Dans Paris.

Dia da Consciência Negra-Parda

20/11/2009

De todos os feriados, o melhor é este. Que outro dia podemos celebrar o humor negro com tanta felicidade? (Eu iria escrever facilidade, mas…)

Hoje é como o Natal dos negros, e Zumbi dos Palmares é Jesus. (Quase tão negro quanto.)

Hoje é dia de lembrarmos de Michael Jackson, o maior de todos os negros. Mais que Jesus. (Quase tão branco quanto.)

Hoje é dia de Darth Vader, o maior de todos os vilões. Mais que Hitler. (Quase tão divertido quanto.)

Hoje é dia de você ver “pessoas brancas” adorando ficar em casa sem fazer porra nenhuma (alguns fazem churrasco, mas não de negros). Pessoas brancas que só lembram que hoje é feriado quando alguém chega avisando, “ei tal dia é dia dos pretos!”. E aí a velha hipocrisia de negros-brancos–pardos-amarelos-marcianos toma conta. “Se eu sair com camiseta 100% BRANCO sou morto, mas 100% PRETO pode” e “por que os ‘brancos’ não têm um feriado?” são as frases que a gente mais escuta perto desse dia. Para essa última frase, há variações conhecidas para o Dia Internacional da Mulher.

O “racismo” vem de todos os lados: brancos, negros, pardos, amarelos e marcianos. Pessoas que insistem em usar classificações de raça e cor e que até brigam para que tal classificação continue. Fanático seria um sinônimo para racista.

Quer me taxar de racista? Vá em frente, a hipocrisia é sua, a consciência negra é sua. Eu tenho ao menos um documento que me classifica de pardo, mesmo com todos os outros dizendo que sou “branco”. Acho que eu posso fazer piada da minha própria desgraça, neah?

Eu sou gente, humano, homem, possuo um telencéfalo altamente desenvolvido e um par de polegares opositores capaz de executar o movimento de pinça, o que, por sua vez, me permite a manipulação de precisão, me divertir com meu humor negro e escrever qualquer merda neste blog.

Sou como você, mas do meu jeito. E até os marcianos possuem cérebro, cabeça, tronco, dois braços, duas pernas e outras coisas mais que podemos imaginar. Inclusive a cor verde.

Screamin’ Jay Hawkins. Esse é o cara. Negão bom da porra:

Depois de Jesus, deve ter sido o primeiro freak-performancer da história. Que responsa.

Amanhã, escrevo sobre Ma Mère e Dans Paris, dois bons filmes que curti essa semana.

Ou não.